quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Nova quilometragem

Ninguém tem lido meu blog, mas essa postagem é um compromisso comigo mesmo: estou voltando à vida de blogueiro. Afinal, leio letras, estudo letras, gosto de letras, trabalho com letras, faço faculdade de Letras. Por que não também criá-las?

Parte de meu jejum vem da escassez de leitores. Mas prefiro considerá-la uma escassez qualificada. O que seria isso? Ambigüidade: ela me faz melhorar a qualidade dos posts ao mesmo tempo em que apenas leitores qualificados lêem esse blog. Não poderia deixar de ser assim.

Não é Big Brother Brasil, mas AGUARDEM!

quinta-feira, julho 06, 2006

What not to publish (1)

What not to wear (em português Esquadrão da Moda) é um programa do canal People and Arts em que Trinny e Suzana (acho que são essas as apresentadoras), especialistas em moda, dão dicas para inglesas mal vestidas para que fiquem mais confiantes e felizes - são os dois adjetivos que concluem todo final do TV show. Baseado nesse criativo entretenimento da classe média, decidi criar um tópico (ou uma série deles) sobre toda sorte de produtos de mídia que são publicados. Traduzindo: o que não publicar. Ou, numa comparação talvez mal sucedida: Esquadrão do Bom Tom. Podemos partir, então, para um primeiro exemplo:


Maquete do projeto de expansão do Aeroporto Santos Dumont
  • Outdoor sobre os investimentos do Governo Federal no Aeroporto Santos Dumont. Até aí, vai. Mas o problema é a localização do imenso painel: na boca da favela do Jacaré! Pena que não consegui achar nenhuma imagem do feito. Mas, sim, existe o fato. Aguardei algum tempo para expressar minha indignação aqui. Mas o outdoor está há meses no mesmo lugar. Não sei por que ainda não levou nenhuma pedrada! De que interessa ao morador do Jacaré saber que o aeroporto localizado na Zona sul recebeu investimentos na ordem de milhões de reais se olha para o seu sistema de esgoto e percebe que nele foi investido não a ordem dos milhões, mas da ninharia? Poxa, se ainda fosse o Aeroporto do Galeão, também localizado no subúrbio! Das duas, uma: ou a empresa de publicidade contratada pelo governo não percebeu essa pequena discrepância de público, ou o governo é romano. Gaba-se pela sua grandeza, independente dos fruidores dela. Pelo amor ao meu pouco cabelo...

domingo, junho 18, 2006

Ao longe

Brasil x Austrália na TV. O personagem atende a alguns telefonemas, e nenhum é tão importante quanto assistir à seleção brasileira. Há mais de 10 pessoas na sua casa gritando e torcendo. Quantas mais não estarão em seus lares fazendo o mesmo? Um canal, um time, uma nação!



O protagonista caminha ao portão com o intuito de observar, quem sabe, algumas pessoas passeando com bandeiras. E, pela primeira vez em sua vida com os olhos abertos, a audição é mais relevante do que a visão - salvos os casos em que foi salvo de atropelamentos e outras tragédias por ouvir o som de veículos ou avisos de colegas, incluindo porradas de colegas no ensino fundamental. Não eram ecos ouvidos ao longe. Não. Aparelhos de TV, todos sintonizados na mesma emissora, soavam juntos em volumes explosivos. A visão não era necessária. O personagem, não mais protagonista - já explico o porquê - não precisa ver o jogo para acompanhá-lo. Galvão Bueno narra a todos os brasileiros.

Entrementes, Gabriel Tarde e Gustave Le Bon sorriem em seus túmulos. Eles foram de movimentos psicológicos que afirmavam serem as massas desfavorecidas intelectualmente, mas extremamente eficazes em vontade conjunta. Assim, personagens passam a fazer parte de um inconscientes coletivos. Protagonistas desaparecem.

E ainda resta alguma análise? Sociólogos pós-modernos, em sua maioria, acusam o fim dos Estados Nacionais. Depois da amostra futebolística televisiva, uma conclusão: mediados por TV? Sim. Contudo, ainda existentes. Estados Nacionais, sim! Basta saber se isso é bom, ruim, meo-termo, estranho (ou maniqueísta!). E a quem...

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Adoçante Expresso

Tenho a impressão de que adoçante foi feito não para adoçar, mas para te fazer parar de beber as coisas.


Você saboreia um copo de 200 ml de leite com café (sim, porque me recuso a chamar pingado de café com leite!) e 19 gotinhas de Finn. Ao terminar, diz: "Puta que o pariu! Amanhã eu vou tomar água". Assim as pessoas param de tomar café. Assim as pessoas partem até para o leite de soja, que, por já ser menos engordativo, pode ser misturado ao açúcar.

Pelo mesmo caminho deve ir aquela carne vegetal feita pela Superbom. Alguém aqui já provou? Eu tenho meus momentos. Desejo, às vezes, ser macrobiótico. Então, nessas loucuras, já experimentei muita coisa. E posso afirmar que a maioria não presta. Eu comi um pedaço do bife vegetal dessa marca e quase vomitei. Meus cães adoraram. Pior foi quando comprei o hambúrguer vegetal da Perdigão. Depois de 10 minutos fora da geladeira (que é o tempo que se demora para fritar a segunda rodada de hambúrgueres para uma família de cinco pessoas), aquela massa descongela e vira água. Suja, mas água! E com gosto de sujeira mesmo!



Esses produtos realmente fazem as pessoas repensarem a quantas anda o meio ambiente. Com que fim estão sendo usadas as plantinhas... Pelo menos faz-se algo mastigável e saboroso com carne. Se a engenharia de alimentos não inventar rapidamente algo gostoso aos macrobióticos, corre-se o risco de eles desistirem de seu sonho de "não agressão".

Conversando com uma nutricionista hoje, Mariza Pires, ouvi o seguinte: "Tudo o que é light é mais caro. E, às vezes, não vale a pena ser comprado". Eu complemento: "A cozinha tradicional pode até ser engordiet, mas, se repensada, pode se tornar saborosa e saudável".

Esse é meu primeiro tópico sobre comida aqui. Os leitores verão que, nesse verão eterno que é o Brasil, há uma constante tão certa quanto o calor dos trópicos: minha paixão por comida.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

A fome molhada






Lendo um dos contos de Alexandre Neverov, A Fome, fui tomado por uma constatação não muito nova, mas que me fez refletir. A fome não é seca. Tampouco molhada. É fome não adjetivada.

O brasileiro médio cultiva a crença de que a fome é seca, no Nordeste as pessoas comem menos por não terem água. Um mínimo pensamento crítico sobre o assunto rebate essa tese. Mas não se esquece, nunca, em foro intelectual íntimo, de que a seca é responsável pela morte, pela miséria. As imagens da caatinga e da palma, vegetação que nem nativa do Brasil é, remetem logo a uma piedade compartilhada típica de telespectador de Globo Repórter. Não que essa pena comprometa a integridade das pessoas. Até indica boa ética. Mas o tipo de associação feita não ajuda, definitivamente, a solucionar o problema


"O caminho, todo gretado, parecia coberto de feridas purulentas, podres e fundas. Os esquilos gritavam monotonamente. Como grandes e estranhas gotas de chuva, gafanhotos verdes de olhos redondos e fixos, caíam a seus pés."
*Alexandre Neverov - A Fome


As palavras de Neverov descrevem uma Rússia molhada, com neve recém descongelada e vegetação semi-morta. Num momento do texto, o autor ainda se refere às terras como "secas", sobre a infertilidade do solo. O detalhe visual que difere essa parte ao Nordeste do mundo da parte ao Nordeste do Brasil é a neve. A vegetação remexida pelos humanos em busca de comida é a mesma. O sentimento de derrota também. E, principalmente, o sopro de nada no estômago é compartilhado.

A atenção do tupiniquim merece ser voltada à fome em geral. Acostumou-se, nesse país, a se fazerem promessas visando o fim da fome dos irmãos nordestinos. E, quando se anuncia uma redistribuição das águas do Rio São Francisco para levar uma certa umidade ao solo deles, acredita-se que vão ter as barrigas cheias. Mas se esquece, finalmente, que quando ao Sudeste vêm, alguns continuam a passar fome. Uma molhada, úmida e purulenta fome.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Minha Bíblia de cada dia

fonte: Folha de São Paulo, 1º de outubro de 2005
O primeiro livro que tive, de fato, grande desejo de obter foi a Bíblia. E não se tratava de uma daquelas encapadas com material especial, talvez mesmo em couro, e com ilustrações de Da Vinci. Não me interessava por uma cópia da Capela Sistina. Se é do Vaticano, que fique lá. Eu queria algo simples. Contentava-me com uma publicação de 14 por 11cm. E eu a ganhei. Minha avó, boa evangélica, esperando que o neto se convertesse, me presenteou com este que falam ser um livro sagrado.
A palavra de Deus se tornou palavra de deus.

E hoje almejo escrever livros, embora ainda tenha algum tesão em ler obras complexas e, porventura, de meros mortais. Engraçado é que transferi essa grandeza idealizada: antes, da quantidade de páginas; outrora, dos autores, de seus tramas, de suas personagens. Nesse domingo visitei minha avó. Até hoje fazemos uma oração na despedida. E senti, como nunca, uma dificuldade enorme de fechar os olhos e não enxergar minha interiorizada grandeza. A pessoa cresce e, nisso, diminui. Nietszche já vislumbrava a criança como o estágio supremo do homem antes de se tornar super-homem.
Regredir é a solução?

quinta-feira, janeiro 05, 2006

The King of Fighters!

E essa guerra nunca termina. Depois da morte de Yasser Arafat no último ano, Ariel Sharon está pronto para bater as botas, segundo um de seus assessores pessoais que deve ter vendido informações à imprensa mundial. O líder palestino sempre desabafava com seu povo: “Quero dizer a Sharon e a seus seguidores que o vento não pode derrubar uma montanha”. No final das contas, a montanha desabou, não pela ação do vento, mas pela idade. E pelo mesmo caminho vai o judeu. Já sabemos quem saiu de cena antes, mas é curiosíssimo notar que vão quase juntos. E dá a impressão de que um estava competindo com o outro, né? Num sentido figurativo, podemos encontrar alguma metáfora a joguinhos de vídeo-game. Personagens intermediários são abatidos e, muitas vezes, algum bonequinho cai num precipício. Mas, ao final, o campeão é o "King of Fighters". Desde que consiga derrotar o mestre, o chefão. No caso de Sharon e Arafat, a luta vai perdurar algum tempo.

Não seria interessante, uma vez, se o deus de cada um se levantasse pra dar porrada no outro. Mas pelo menos as palavras de cada um, a Torá e o Corão, continuam deitados sobre as mesas.

(Na cena: Ariel Sharon sonhando golpear Yasser Arafat)

terça-feira, janeiro 03, 2006

O pássaro da Madre

Caído de um dos galhos. A trepadeira era uma Madre Silva. De corpo atado. Atacado por cães não tão selvagens. Agressivos?, não! Domésticos. Típicos Canis familiaris, mas ainda com certo instinto do antecessor (e, talvez, da mesma espécie), Canis lupinus. O animal caído era um Bem-te-vi de cabeça avermelhada. Na verdade, era apenas um risco rubro. E o narrador não sabe se essa é uma característica inerente a todos os pássaros dessa espécie ou se realmente aquela rajada quase festejante era exclusiva de Júlio, nome dado pelas crianças que o acharam e salvaram dos caninos dos caninos dos caninos. Não sei se aqui tem "caninos" demais.

Quase devorado e com a asa quebrada, o bichinho foi abrigado numa caixa luminosa, ou iluminada. *Tudo depende. Em época natalina, o celeiro pode ser considerado luminoso, desde que O ungido, O Iluminado, Jesus, esteja ali representado. Um objeto luminoso é aquele que emite luz própria. E, com Júlio naquela caixa, a luz tinha uma fonte própria. Isso em se desconsiderando a lâmpida erguida a 2 metros na parede do cômodo.* Ali, sua crista desapareceu. Mas o Bem-te-vi, lânguido, costelas quebradas e más lembranças da estadia em bocas fedorentas, cheirando a, como dizem alguns, buceta de cachorra, precisava comer.

As crianças trouxeram uma papinha com cheiro de frutas. Apeteceu os ânimos do pássaro. Mas sua boca estava cerrada. Por um momento, aquelas crianças, depois do almoço, também cheiravam a buceta de cachorra (o almoço teria sido bife de fígado? Qual o cheiro do órgão desse mamífero "dócil"?). E, combinemos, depois de uma hora de contato, nenhum Júlio abriria sua boca para receber comida de ninguém! Forçado a comer, engoliu. Sentiu-se bem. Assim como os altruítas infantes! Nada melhor do que salvar. Um espírito cristão bem adotado: mentes asseadas e piedade, mesmo de diferentes.

Duas horas depois, vendo Júlio ainda magro, mas já desperto, ele foi entupido de comida. Dessa vez tudo ocorreu de forma facilitada. A boca se abriu facilmente. A tal papinha era bas boas. E os dedos das gigantes inexperientes em qualquer veterinária avançavam ao bico preto. Avançavam, avançavam. E avançaram mais enquanto o animal gostava. E ele parou de gostar. A boca, contudo, continuou fixa. Tentou alguma expressão. Mas nem o médico veterinário entenderia os músculos "subpenosos" trincando de tanta dor. Penosa situação. Num ato final, defecou na mão de um dos bons samaritanos. Eles apenas se limpou. Soltou o bico do Bem-te-vi, que despencou engasgado. Primeira morte vista e causada pelas crianças. Não entenderam, tampouco se importaram. Bem-que-viram a rabanada do Ano Novo ainda pousada sobre a mesa. Dia 2 de janeiro, ainda. "Bem-te-vi-morto". Agora brincavam. A manjedoura perdera seu "eu" luminoso. O pássaro nem voou mais. Caído, morto, tornou-se mais um humano.

domingo, janeiro 01, 2006

Ano Novo em sol

Ontem foi estranho (ao longo dos meus posts, todos poderão perceber que esse é um dos meus mais usados e favoritos adjetivos). Típico 31 de dezembro. Nunca fiz muita distinção entre Natal e Ano Novo. A diferença, pra mim, sempre foi a quantidade de fogos. O sentimentos é o mesmo. Pelo menos na minha família, todos se abraçam, se beijam e declaram seu amor uns aos outros. Mas algo mais aconteceu. No começo do ano, nutri sentimentos por uma heptagenária. Ela estava doente e, lá pelo meio de ano, perdemos contato. Pois mal, ontem eu liguei para desejar Boas Festas à família dela. Dona Clenir havia falecido. O marido dela está sozinho. É uma situaçãon absolutamente normal. Mas aonde vai o Feliz Ano Novo de Clenir?

Sol, para mim, sempre foi a nota mais triste. Não sei se poderia dizer que eu passei o Reveillon em Sol. Mas o marido da falecida passou. Só, sem ceia. Talvez num Sol desafinado. Quase um Natal, mas sem jingles.

Mas o mais estranho foi, certamente, eu ter fechado o ano com o conhecimento de uma morte. Espero que esse não seja o monotom do ano.

Diferentes Fagulhas em Combustão

Por que peculiar e por que adjunto? Parece que muitas das fases da vida começam por perguntas que não obrigatoriamente serão respondidas. Ou, se são respondidas, obviamente ainda falta algo para o entendimento de quem está ouvindo. Mas não é um ensaio sobre a falha nas respostas que escrevo aqui. Este blog se pretende "Peculiaridades adjuntas" porque vai incluir, sempre, em meus textos, particularidades de assuntos não diretamente relacionáveis, mas com vias de entrosamento. Assim percorrem os diferentes fatos em nosso dia-a-dia. Dia a dia acordamos, vivemos, vemos. E, no final do dia, morremos. Osíris que leva nossa mente a mortes desconhecidas... Mas com resquícios de nossas quase 2 dezenas de horas acordados.